História do Clube

          Em 24 de Abril de 1917, foi criado o Clube União Portimonense, a grande coletividade recreativa, durante décadas, conhecida, vulgarmente, como o clube dos ricos. Este qualificativo tem como fundamento a situação socioprofissional dos associados. O livro de inscrições de sócios do Clube União Portimonense, elaborado em 1933, por o anterior se ter extraviado, mostra-nos que, de uma maneira geral, a maioria dos sócios pertencia à elite local. Até ao sócio 50, havia 18 comerciantes, 7 proprietários, seis empregados industriais, 5 industriais, 3 despachantes de alfândega, 3 guarda-livros e dois funcionários públicos. Os associados sentiam-se ufanos, por, entre eles, estar António do Carmo Provisório, o famoso homem de negócios e de muitos haveres.

 

          Os fins desta coletividade estão expressos no art.° 1.° do capítulo I dos estatutos de 1917, de que se conserva uma cópia, entrados em vigor naquele ano, após aprovação em Assembleia-Geral: «Os fins desta sociedade são de recreio para os sócios e suas famílias.» No art.° 6.° zela-se pela honorabilidade dos associados: «São admissíveis como sócios os indivíduos de maior idade cujo procedimento seja digno.» Havia três tipos de sócios: permanentes, temporários (os que residindo habitualmente fora. venham aqui residir acidentalmente) e externos (os que residirem sempre fora da vila). Os sócios permanentes pagavam uma joia de 4$00 (quatro escudos) que podia ser dividida em duas prestações e uma quota mensal de $40 (quarenta centavos), os temporários não pagavam joia e a sua quota mensal era de $50 (cinquenta centavos), os externos pagavam uma joia de 5$00 e estavam isentos de quotas.

 

          Nos artigos 17.° e 18.° do capítulo III dos mesmos estatutos, referem-se atividades proporcionadas aos sócios: «Haverá um gabinete de leitura com biblioteca que poderá conter livros, periódicos, folhetos de arte, de ciências e de literatura. Haverá uma sala destinada para jogos de bilhar, xadrez, gamão e congéneres e outra para jogos de carteado ou de vaza.» O § único do art.° 18.° proíbe «os jogos de parada ou de azar». No art.° 19.°, fala-se em «reuniões familiares ou quaisquer outras diversões, sempre que a direção entender promovê-las, por sua iniciativa ou pela de qualquer comissão de sócios que, para tal fim se constitua». Entre estas «reuniões familiares estavam os bailes de Carnaval e outras festas, como a celebração do Maio e do Magusto de S. Martinho. As senhoras preocupavam-se com toilettes e com os alimentos que levavam de casa para os «assaltos», a serem compartilhados pelos presentes. A preocupação de ostentar um certo estatuto social era motivação forte para o requinte. Nos bailes de Carnaval, apareciam os doces e outras iguarias, no Maio, tinham lugar de destaque os queijos de figo, as estrelas, e os figos cheios, no magusto do dia de S. Martinho, as castanhas assadas na própria coletividade e a água-pé.

 

          O dinamismo desta e de outras coletividades assentava muito na disponibilidade dos membros da direção e dos sócios para executarem tarefas indispensáveis ao bom funcionamento do clube. Os estatutos criaram uma figura a quem incumbiam determinadas obrigações, era o «diretor da semana». Cada um dos diretores, incluindo o presidente e o secretário, servirá por turno uma semana. Durante a sua semana de turno, incumbiam-lhe as responsabilidades indicadas no art. 44.° dos estatutos: «1.° Fiscalizar as obrigações dos empregados no que respeita ao asseio. boa ordem e conservação da casa e mobília. 2.° Fazer observar a maior economia compatível com a decência e o bom serviço do clube. 3.° Fazer cumprir, por parte dos sócios e empregados, os presentes estatutos. 4.° Fiscalizar a arrecadação dos rendi os do clube, como são: bilhar, mesas de jogo, etc. 5.° Dar as providências que julgue necessárias, nos casos que não admitem demora, até que, reunida a direção, esta resolva o que melhor convenha. 6.° Manter a boa ordem e harmonia entre os sócios. 7.° Fiscalizar a entrada de pessoas estranhas à sociedade para efeitos do art.° 14.° e seu parágrafo, sendo, na sua falta, substituído por qualquer diretor. 8.° A semana do diretor começa ao domingo de manhã e termina no sábado à noite.»

 

          Aquela orgânica, garantia o bom funcionamento e vitalidade da sociedade, mas exigia dedicação por parte do diretor da semana». Só assim se explica que o Clube União Portimonense tenha gozado de tanta prosperidade durante muitas décadas. Presentemente, não é fácil encontrar quem esteja disponível para exercer as tarefas de um «diretor da semana». Se alguém estivesse disposto a isso, com a disponibilidade exigida pelas funções, facilmente seria objeto de irrisão e até de inveja, embora ainda apareçam pessoas dedicadas, raramente apoiadas em estruturas que reforcem a sua vontade de servir a comunidade. O Clube União Portimonense, como outros clubes, atravessou momentos de uma certa agonia, não tendo sido fácil adaptar as atividades das sociedades de recreio e de cultura aos tempos modernas e o espírito gregário não apresentando a mesma vitalidade de tempos idos, não muito remotos.

 

 

In Tengarrinha, José, et al. 2010. Portimão E a Revolução Republicana. 3ª ed. Alfragide: Texto Editores.

 

 

Nota: Este excerto foi retificado com o novo acordo ortográfico.

 

 

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